A importância dos ingredientes para a qualidade da ração e produtividade das aves

David Toledo

Gerente de Produto - Aves

26 junho 2023
-
6 minutos

À medida que avançamos em direção a uma produção avícola mais produtiva, eficiente, rentável e sustentável, garantir a qualidade dos ingredientes utilizados nas rações para as aves é crucial.

Podemos justificar facilmente a importância que as empresas devem ter quanto à qualidade das matérias-primas em 3 esferas básicas, bem como através de pontos chaves para um adequado programa de controle de qualidade:

Econômica: nesta esfera, temos um efeito direto, que é o quanto a empresa paga a mais ou a menos pela qualidade do que coloca em suas fábricas de rações e, para isso, é fundamental o alinhamento entre o setor de nutrição e suprimentos de uma empresa. Pelo lado da nutrição, é importante definir e esclarecer as especificações técnicas de cada ingrediente, respeitando não somente as exigências dos animais, mas também o mercado de cada insumo para não inviabilizar economicamente o negócio por conta de padrões impraticáveis. Já pelo lado do setor de compras, cabem aos responsáveis entender integralmente a importância do que está em jogo e seguir o que deve ser mutualmente acordado com a área de nutrição em seus contratos de compra. Tratando-se do efeito indireto, porém não menos importante, existe a interferência negativa ou positiva que a qualidade da matéria-prima pode exercer sobre o resultado zootécnico. Todos os envolvidos e ligados à cadeia de produção animal sabem o quão dependente é o resultado financeiro do resultado técnico e à medida que a ração encarece – cenário vivenciado nos últimos anos – a interferência, por exemplo, da conversão alimentar sobre o custo de produção, é ainda maior.

Sanitária: esta esfera está em evidência nos últimos anos, devido a acontecimentos como a Covid-19, que nos ensinou muito sobre a importância da saúde, bem como o medo da Influenza Aviária atingir o Brasil – o que tem tirado o sono de profissionais ligados à avicultura, bem como o impacto técnico comercial ocasionado pela Salmonela – principalmente para as empresas que atuam no mercado de exportação. Fatos como estes apenas deixam claro que, sem o adequado controle da sanidade, nenhum produtor ou empresa produzem bem e nenhum país poderá ser considerado uma referência mundial em um determinado negócio ligado à produção animal. Além de diversos outros fatores, o que coloca o Brasil em evidência na cadeia de produção de proteína animal, é a qualidade do status sanitário de sua produção. Portanto, mais que evitar a má qualidade dos ingredientes, garantir que os animais tenham acesso a um alimento de qualidade, é premissa básica para manutenção da performance em patamares profissionais.

Desempenho zootécnico: o efeito da qualidade do alimento está diretamente ligado a esta terceira esfera por diferentes vias. A primeira dela remete à esfera anterior, que também está ligada aos prejuízos na performance produtiva dos animais que uma matéria-prima contaminada micro biologicamente poderá gerar, prejudicando sanitariamente os animais, prejudicando, assim, os índices zootécnicos dos planteis. Além disso, outros fatores intrínsecos à qualidade do ingrediente, tais como a estabilidade oxidativa, contaminação de micotoxinas, deficiência de processamento, fatores antinutricionais e outros, podem afetar direta e/ou indiretamente a performance zootécnica e ao contrário de uma variação bromatológica do ingrediente, os nutricionistas não conseguem corrigir ou compensar os efeitos da falta de controle destes parâmetros. Além disso, temos os efeitos negativos que as variações bromatológicas poderão exercer sobre o resultado zootécnico ou econômico, pois, se não controladas, o resultado será a divergência entre o que foi definido na formulação e o que chega realmente à boca do animal.

Existe um canal muito estreito entre cada uma destas esferas, ou seja, os pontos negativos e positivos atrelados a cada uma delas, afetará toda a cadeia, consequentemente.

Em resumo, temos motivos de sobra para entender o grau de importância que a qualidade das matérias-primas exerce sobre a produção de qualquer espécie animal.

Após falarmos sobre a importância da qualidade das matérias-primas utilizadas nas rações, não devemos deixar de ressaltar também pontos importantes em um plano de controle de qualidade dos ingredientes.

Quando tocamos no assunto durante uma conversa técnica, a impressão geral é que todos estão preocupados e cuidam da questão. Porém, na prática, identificamos muitas oportunidades de melhoria neste processo. É possível identificar claramente uma situação muito heterogênea do grau de importância e investimento em qualidade de ingredientes que cada empresa emprega no dia a dia de sua produção.

Sabemos que nem tudo é simples assim e no dia a dia as empresas possuem recursos limitados, seja econômico, força de trabalho, mão de obra qualificada, acesso a maior variedade de fornecedores, etc. O importante é entendermos que antes do ideal existe o possível, ou seja, se não for viável executar o ideal, devemos procurar melhorar continuamente dentro do que é possível.

Sendo assim, propomos que o processo de controle de qualidade das matérias-primas contemple esses 4 itens fundamentais:

Determinação das especificações técnicas das matérias-primas: este processo é crítico e é o pontapé inicial de um processo de controle. Deve ser feito pela área de nutrição – preferencialmente com apoio de um técnico em Controle de Qualidade – e nada mais é do que a definição dos padrões de qualidade de cada ingrediente utilizado. Nesta especificação deve ser considerado o que é crítico para ser analisado em cada matéria-prima, determinando os limites entre ideal, aceitável e recusável. Além disso, deve ficar claro nas especificações o que são parâmetros determinantes para uma recusa do material e quais são os parâmetros apenas para acompanhamento e classificação do fornecedor. A regra deve ser clara para todos, principalmente para os fornecedores. Um ingrediente que não atender à especificação quanto a algum parâmetro determinante, deve ser recusado e devolvido ao fornecedor. As especificações também servem como guia para o processo de qualificação de fornecedores e dia a dia de trabalho do setor de Compras.

Qualificação de fornecedores: este é um processo que deve ser contínuo e que tem como objetivo principal, a criação de um banco de cadastros de fornecedores aptos ou não ao fornecimento de insumos. Como regra basal, o comprador só pode comprar de fornecedores que estiverem homologados e aptos ao fornecimento. Além das questões documentais e burocráticas, para ser homologado, um fornecedor precisa que seu produto atenda às especificações técnicas definidas para cada ingrediente. Neste sentido, é importante dizer que um mesmo fornecedor pode estar apto para o fornecimento de uma dada matéria-prima e não estar apto para outra. A qualificação é um processo contínuo, à medida que os fornecedores passam a ser avaliados no dia a dia, através da etapa de monitoria. Os resultados deste processo definirão se o fornecedor seguirá apto ou se perderá a sua qualificação, conforme resultados obtidos em análises aplicadas no programa de monitoramento.

Programa de monitoria: quem determina o que deve ser monitorado ou não são as especificações técnicas. Através delas, é definido o que deverá ser analisado e controlado para cada ingrediente. Cada análise realizada pode ter diferentes objetivos. Em geral, por meio do programa de monitoramento, visamos analisar o que é determinante para a aprovação ou reprova da matéria-prima, o que se faz necessário para a manutenção da qualificação do fornecedor, bem como para o acompanhamento de ajustes nutricionais. Neste momento, também é estabelecido uma ordem cronológica de prioridades para as análises, ou seja, aquilo que é determinante para o aceite ou não do ingrediente, deverá ser analisado antes da descarga do produto. Este tipo de análise também é conhecido como análise de recepção. Já outros parâmetros utilizados para qualificação e ajustes nutricionais, as chamadas análises de rotina, podem seguir uma cronologia diferente, de acordo com um plano de análise estabelecido e considerando a rotina de trabalho da empresa – não por isso deixam de ser importantes, pois serão a base dos ajustes das matrizes nutricionais realizadas pelos nutricionistas, que estão intimamente ligadas a prejuízos técnicos ou econômicos se realizadas de maneira inadequada.

Classificação de fornecedores: o processo de classificação não poderia deixar de ser mencionado em um processo bem definido de controle de qualidade de matéria-prima. Através da classificação, é possível gerar um ranqueamento de fornecedores, estabelecendo, assim, uma ordem de prioridade de compra – o que é útil no dia a dia e poderá ser mais útil ainda em um período de escassez de matéria-prima. Através da etapa de classificação, são estabelecidos planos de negócios de maior prazo com fornecedores que apresentem maior assiduidade quanto à qualidade do produto fornecido.

Considerações finais:

Como podemos ver, a qualidade da matéria-prima utilizada na alimentação animal é um tema muito relevante e técnico. Não podemos simplesmente definir um ingrediente como de qualidade, mas sim garantir que o alimento apresente a qualidade necessária para que uma atividade tão importante como a produção de proteína animal seja sustentável, técnica e economicamente viável.

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