Franciselose na aquicultura: uma preocupação nos períodos mais frios

Gustavo Julio

Supervisor Técnico Comercial de Matéria-Prima e Pet&Aqua

11 junho 2025
-
5 minutos

Durante o inverno, as baixas temperaturas e a maior oscilação térmica favorecem o surgimento de diversas doenças bacterianas na aquicultura brasileira. O estresse térmico compromete o sistema imunológico dos peixes, tornando-os mais suscetíveis a infecções oportunistas, e podendo causar grandes prejuízos no sistema produtivo.

Um desafio sanitário comum no inverno

Dentre as doenças que causam mais preocupação na aquicultura, está a franciselose. Doença bacteriana causada pela bactéria Gram-negativa Francisella noatunensis subsp. orientalis (FNO), que acomete principalmente a tilápia-do-Nilo, especialmente durante os meses mais frios do ano. Esta enfermidade tem se tornado um dos principais desafios sanitários da aquicultura brasileira, com impactos significativos na produtividade e na sustentabilidade dos cultivos. É favorecida por temperaturas da água abaixo de 24°C, sendo mais comum no inverno e início da primavera. Os alevinos e juvenis são os mais suscetíveis, embora casos em animais adultos também tenham sido registrados.

Sinais clínicos

  • Nódulos esbranquiçados em órgãos como fígado, baço, rins e brânquias;
  • Esplenomegalia (baço aumentado) e nefromegalia (rins aumentados);
  • Perda de peso, letargia, queda no desempenho zootécnico e mortalidade progressiva.

 

Figuras: Baço de tilápia do Nilo, com granulomas multifocais (setas) devido à infecção por Francisela (A), setas indicam rim caudal com múltiplos granulomas (B), granulomatose branquial (setas), onde pode notar inúmeros pontos brancos (granulomas) nos filamentos branquiais causados pela franciselose (C). Fonte: Leal, 2018.

 

 

O diagnóstico pode ser feito por:

  • Necropsia e observação de lesões características;
  • Análises histopatológicas;
  • Isolamento bacteriano;
  • Testes moleculares (PCR), que oferecem maior acurácia no resultado.

 

Transmissão e prevenção:

A transmissão pode ocorrer de forma vertical (de reprodutores para larvas), o que torna essencial o monitoramento sanitário de matrizes. A ausência de vacinas eficazes torna o controle mais difícil, exigindo estratégias como:

 

  • Monitoramento periódico (a cada 10 dias) em regiões de risco;
  • Boas práticas de manejo e biosseguridade;
  • Diagnóstico precoce para intervenção rápida.

 

Tratamento:

O tratamento é feito com antibióticos, mas deve ser baseado em diagnóstico confirmado e antibiograma. O uso prolongado e em altas doses pode gerar resistência bacteriana e aumentar os custos de produção.

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Impactos econômicos

A franciselose causa:

  • Altas taxas de mortalidade em alevinos e juvenis;
  • Redução do desempenho zootécnico;
  • Aumento nos custos com medicamentos e manejo;
  • Maior vulnerabilidade a outras doenças, como a estreptococose no verão;
  • Miosite granulomatose bacteriana, lesão que acomete a musculatura dos peixes, causando diversos pontos pretos no filé, fato esse que leva a condenação das carcaças e descarte das mesmas no frigorífico, causando grande prejuízo aos produtores.

Diante dos impactos significativos da franciselose, especialmente durante os meses mais frios, o controle da doença exige atenção redobrada à biosseguridade, ao monitoramento contínuo e ao diagnóstico precoce. Embora o Brasil ainda não conte com vacinas comerciais disponíveis, o uso de vacinas autógenas surge como alternativa viável, associada à redução no uso de antibióticos e ao fortalecimento das estratégias preventivas.

A adoção de boas práticas de manejo e o investimento em sanidade são fundamentais para mitigar perdas econômicas e preservar a sustentabilidade da atividade aquícola. Estudos contínuos e o compartilhamento de experiências entre produtores e profissionais da área são essenciais para avançarmos no enfrentamento desta enfermidade e seus efeitos na aquicultura.

Referências:

Pádua, S. B. Aspectos clínicos da Franciselose e estratégias de controle. 2022. Presente Rural.

Carreon, M. M. Francisella noatunensis subsp. orientalis em Tilápias do Nilo cultivadas em tanques-rede na Bacia do Rio Araguari, Minas Gerais, 2018. 71p. Tese (mestrado). - Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias;

Leal, C. A. G. Franciselose: um desafio de inverno para a tilapicultura brasileira. 2018. Panorama da Aquicultura.

Pádua, S. B. Franciselosa: monitoramento e intervenção.  2018. Aquaculture Brasil.

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