Uso de pigmentantes na alimentação das aves

Renata Soares Marangoni

Nutricionista de Aves

09 abril 2025
-
5 minutos

A cor da gema é um fator importante para muitos consumidores e pode influenciar diretamente sua decisão de compra. Embora não esteja relacionada ao valor nutricional do ovo - já que os teores de proteína e gordura permanecem os mesmos - a coloração é frequentemente associada à qualidade e ao frescor do produto. A preferência pelo tom da gema varia de acordo com o perfil do consumidor, podendo mudar entre países ou até entre regiões dentro de um mesmo território. Em mercados como Brasil e Estados Unidos, há uma tendência de preferência por gemas de coloração média a intensa. Já na Europa e em partes da Ásia, os consumidores costumam optar por gemas com níveis mais elevados de pigmentação. Esta percepção visual tem forte peso na experiência de consumo e se torna um critério de escolha no ponto de venda. Por isso, muitos consumidores demonstram clara preferência por gemas com tonalidades mais vivas e intensas, o que reforça a importância da pigmentação na formulação das dietas avícolas.

Postura comercial

A coloração e a intensidade da pigmentação da gema do ovo resultam da deposição de xantofilas, um grupo de pigmentos carotenoides presentes nos alimentos ingeridos. Assim, a alimentação das aves influencia diretamente a cor da gema, já que os pigmentos naturais presentes nos alimentos, como as xantofilas (incluindo luteína e zeaxantina), são os principais responsáveis por sua coloração. Dessa forma, a cor da gema do ovo serve como um indicador do tipo de alimentação das galinhas, sendo que gemas com cores mais intensas indicam o consumo de alimentos ricos em xantofilas. Obviamente, na indústria avícola, a coloração e a intensidade da gema são normalmente influenciadas pela adição de pigmentos nas rações, provenientes de fontes naturais, como o milho e o pimentão vermelho, ou pelo uso de carotenoides sintéticos, como a cantaxantina (pigmento vermelho) e o etiléster beta-apo-8-caroteno (pigmento amarelo) (GARCIA et al., 2002).

Os pigmentantes naturais, como as xantofilas provenientes do milho e do pimentão vermelho, são amplamente reconhecidos por proporcionar uma coloração vibrante e atraente, além de serem bem aceitos pelos consumidores. No entanto, apesar da preferência dos consumidores, os pigmentantes naturais são menos eficientes do que os sintéticos para colorir a gema, exigindo níveis mais altos na dieta para alcançar resultados semelhantes aos dos corantes artificiais. Mesmo assim, são uma opção economicamente viável, pois o uso de pigmentos sintéticos tende a aumentar o custo da ração. Contudo, os pigmentantes naturais podem apresentar variações na intensidade da cor devido à disponibilidade sazonal e à qualidade dos ingredientes. Por outro lado, os pigmentantes sintéticos, como a cantaxantina e o etiléster beta-apo-8-caroteno, oferecem uma coloração mais consistente e controlada ao longo do tempo, independentemente das flutuações nos ingredientes da ração.

 

Fatores que influenciam a pigmentação

Alguns fatores influenciam a pigmentação da gema do ovo, como:

Carotenoides na dieta: alimentos ricos em carotenoides, como o milho, contribuem para uma coloração mais intensa da gema;
Pigmentantes adicionados: em determinadas situações, são adicionados pigmentantes específicos à ração das aves para garantir uma cor mais uniforme e atraente ao longo do ano, mesmo com o uso de ingredientes alternativos;
Variedade de alimentos: a variedade de ingredientes na alimentação das aves pode resultar em diferentes tonalidades de gema, que vão do amarelo pálido ao laranja intenso.

Além do nível de xantofila da ração, há vários fatores que influenciam a pigmentação, por meio da ingestão de ração, digestão e conversão:

O manejo e o alojamento: fatores estressantes, como algumas práticas de manejo e climas muito quentes, podem reduzir a ingestão de ração, resultando em uma diminuição na ingestão de xantofila;
A idade e a raça: a taxa de deposição de xantofilas geralmente diminui com a idade das aves. Além disso, existem diferenças entre as raças em relação à eficiência da pigmentação;
Saúde: infecções que influenciam a digestibilidade da gordura e a ingestão de ração, como coccidiose e infecções por vermes, podem resultar em pigmentação reduzida;
Qualidade e dosagem da ração: em altas doses, a vitamina A interfere na absorção de xantofilas porque ambas competem pelo mesmo mecanismo de transporte;
Fonte e nível de gordura: no trato intestinal, os ácidos graxos oxidados podem reagir com as xantofilas e destruí-las. As gorduras saturadas longas são menos digeríveis, influenciando negativamente a pigmentação. Além disso, o nível de gordura desempenha um papel na pigmentação.

O milho contém grande quantidade de pró-vitamina A (beta-caroteno) e pigmentantes (xantofila), apresentando, por sua vez, baixo teor de proteína bruta (9% de proteína bruta na matéria seca), como também de triptofano, lisina, cálcio, riboflavina, niacina e vitamina D. Portanto, o milho é a principal fonte de pigmento amarelo em rações, e, ao substituí-lo por alimentos alternativos, como, por exemplo, o sorgo e o milheto, a pigmentação da gema é alterada (BITTENCOURT et al., 2019).

O milho é uma importante fonte de pró-vitamina A (beta-caroteno) e pigmentantes (xantofila), mas apresenta baixo teor de proteína bruta (cerca de 9% na matéria seca), além de quantidades reduzidas de triptofano, lisina, cálcio, riboflavina, niacina e vitamina D. Por esta razão, o milho é considerado a principal fonte de pigmento amarelo em rações. A substituição do milho por alimentos alternativos, como sorgo e milheto, pode alterar a pigmentação da gema (BITTENCOURT et al., 2019). Além disso, variações na composição do milho podem ocorrer em decorrência de condições ambientais durante o plantio e a colheita do grão (BERNARDO et al., 2004), o que ocasiona uma diminuição no valor nutricional e nos teores de xantofilas presentes no grão. Essa diminuição, quando inserida na dieta de galinhas poedeiras, pode acarretar variação e redução significativa na coloração da pele e das gemas dos ovos, pois as aves não são capazes de sintetizar carotenoides.

Não obstante, a tonalidade e a eficiência de coloração dependem de suas estruturas químicas individuais dos carotenoides. Os comprimentos de onda das cores dos carotenoides usados para a coloração de gema e pigmentação de frangos variam entre 400 nm e 600 nm, portanto, dentro da faixa visível do espectro de cores. Para o olho humano, estes compostos são de cor amarela a vermelha (Figura 1) (WANG et al., 2016).

Figura 1: Comprimento de ondas de vários carotenoides
Fonte: Wang et al., 2016

 

Para que a pigmentação da gema ocorra de forma homogênea, são necessárias duas fases. A primeira fase, de saturação, tem como objetivo a deposição de carotenoides amarelos, de forma uniforme, para que posteriormente ocorra uma boa saturação da cor final. Na sequência, ocorre a segunda fase, onde são adicionados carotenoides vermelhos, que mudam a tonalidade (amarela) para uma coloração mais laranja-avermelhada. Portanto, a combinação de pigmentantes que fornecem essas duas colorações é mais eficaz quando se busca aumentar a intensidade da cor (Fletcher, 2002).

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Carotenoides

Os carotenoides são compostos lipofílicos sintetizados por fotossintetizantes, incluindo plantas, algas e cianobactérias, além de algumas bactérias e fungos, e são divididos quimicamente em dois grupos: as xantofilas e os carotenos, com base na presença de oxigênio em sua estrutura, respectivamente. As aves absorvem principalmente as xantofilas, também chamadas oxicarotenoides, presentes na dieta. O hidrocarboneto β-caroteno, apesar de ser o carotenoide mais abundante da natureza, não é tão eficiente na pigmentação em aves devido à capacidade que esses animais apresentam em convertê-lo em vitamina A.

A cantaxantina é amplamente utilizada para intensificar a coloração da gema em poedeiras e codornas, sem impactar a produtividade ou a qualidade do ovo (Garcia et al., 2002). Além de ser um excelente pigmentante, a cantaxantina é um poderoso antioxidante, removendo radicais livres e protegendo as células (Rocha et al., 2013). Pigmentantes sintéticos amarelos, como o apocaroteno, podem ser combinados com cantaxantina para obter uma coloração amarelo-alaranjada na gema, reduzindo o tom avermelhado (Garcia et al., 2002). A substituição de ingredientes da ração, como o milho por sorgo ou milheto, que possuem menos carotenoides, pode resultar em gemas menos pigmentadas. Para compensar, pigmentos naturais são adicionados à dieta, garantindo uma coloração eficiente sem alterar a composição nutricional.

 
Conclusão

Podemos concluir que o uso de pigmentantes na alimentação das aves tem um papel essencial na coloração das gemas, que é um fator decisivo para muitos consumidores, apesar de não estar diretamente relacionado ao valor nutricional do ovo. A preferência pela intensidade da pigmentação da gema varia globalmente, e atender às expectativas dos consumidores é um desafio importante para a indústria avícola.

Os carotenoides, tanto naturais quanto sintéticos, são fundamentais para garantir uma pigmentação de qualidade, sendo as xantofilas, como luteína e zeaxantina, os principais responsáveis por essa coloração. A utilização de pigmentantes naturais, como milho e pimentão vermelho, é uma opção atrativa, porém menos eficiente e mais sujeita a variações sazonais quando comparada ao uso de pigmentantes sintéticos, como a cantaxantina e o apocaroteno, que garantem consistência e controle na intensidade da cor.

Entender e manejar os diversos fatores que afetam a pigmentação, como a idade, a raça, a saúde das aves e a qualidade da ração, é essencial para otimizar os resultados e manter a qualidade desejada. A indústria avícola deve continuar a balancear o custo-benefício entre fontes naturais e sintéticas de pigmentos, adaptando-se às necessidades do mercado e garantindo que a coloração da gema atenda às expectativas dos consumidores sem comprometer a eficiência produtiva.

 
Referências:

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Bittencourt tm et al. 2019. Distillers dried grains with solubles from corn in diet of japanese quails. Acta Scientiarum. Animal Sciences 41: 1-7.

Bernardo, N.; Brenna, O.V.; Amato, A.; Valoti, P.; Pisacane, V.; Motto, M. 2004: 525 Carotenoids concentration among maize genotypes measured by near infrared 526 reflectance spectroscopy (NIRS). Innovative Food Science and Emerging 527 Technologies, 5(3):393-398.

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Hannibal L, Lorquin J, D´ortoli NA, García N, Chaintreuil C, Masson-Boivin C, Dreyfus B, Giraud E. Isolation and characterization of canthaxanthin biosynthesis genes from the photosynthetic bacterium Bradyrhizobium sp. Strain ORS 278. Journal Bacteriology, Washington. 2000; v. 182; p. 3850-3853.

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