O uso estratégico do sorgo na alimentação de frangos de corte e galinhas poedeiras

Warley Alves

Nutricionista de Aves

13 dezembro 2023
-
6 minutos

O sorgo desempenha um papel estratégico na alimentação de frangos de corte e galinhas poedeiras. Sua origem africana e asiática não restringiu sua presença global como um ingrediente valioso na indústria de nutrição animal. Além de ser uma excelente fonte de energia, apresenta teores elevados de amido, tornando-o um substituto viável do milho em muitas situações. Além disso, contém proteína, fibras e uma variedade de micronutrientes, incluindo vitaminas e minerais essenciais.

Por Warley Alves, Nutricionista de Aves

 

No entanto, é importante ressaltar que a viabilidade de seu uso deve ser avaliada a cada momento, pois nem sempre será a escolha mais econômica. Fatores como qualidade, disponibilidade e preço do sorgo, bem como de outras matérias-primas, devem influenciar essa decisão, especialmente quando o objetivo é alcançar maior produtividade, indo além da simples economia.



Neste artigo técnico, discutiremos o uso estratégico do sorgo na alimentação de aves, considerando sua influência na produção, desempenho e saúde das aves.


Esta cultura se destaca por sua resistência à seca e tolerância a altas temperaturas. É uma excelente alternativa para o plantio na segunda safra no Brasil, oferecendo boa produtividade. Sua robustez o torna menos suscetível às adversidades climáticas comuns nesse período, e sua produção pode rivalizar com a do milho. Com seu menor custo de produção em comparação ao milho, o sorgo oferece uma vantagem econômica notável. Sua menor exigência de nutrientes resulta em menor uso de adubos, o que, por sua vez, reduz os custos para os produtores. Isso se traduz em uma dieta mais econômica, pois os preços das rações e suplementos são reduzidos, contribuindo para uma gestão mais eficiente dos custos de alimentação.

O custo reduzido e valor energético competitivo faz do sorgo uma alternativa viável ao milho na alimentação de aves. Devido a sua composição nutricional semelhante ao do milho, com vantagem em relação ao teor de proteína e amido, o sorgo tem a capacidade de substituir até 100% do milho das rações, com eficiência equivalente no desempenho produtivo das aves. Pesquisas demostraram que o consumo de ração e peso vivo de frangos foram semelhantes entre os dois grãos, com melhora na conversão alimentar das fêmeas que receberam a dieta à base sorgo, influenciando positivamente no índice de eficiência produtiva. Isso pode ser atribuído ao menor acúmulo de gordura na carcaça das fêmeas alimentadas com sorgo em comparação com àquelas alimentadas com milho. No caso de galinhas poedeiras, a substituição parcial ou completa do milho por sorgo resultou em índices de produção e massa de ovos semelhantes aos das aves alimentadas com milho. 

É importante advertir que o sorgo tem um teor menor de energia em comparação ao milho. A presença de taninos, que retardam a penetração de água, pode afetar o valor energético do sorgo. Mas, aves alimentadas com sorgo sem tanino demonstram desempenho semelhante às alimentadas com milho e soja. Além da concentração de tanino, a qualidade do sorgo como ingrediente na alimentação de aves está intimamente ligada a cuidados em várias etapas da sua produção e processamento. Embora considerado uma alternativa econômica, o sorgo pode ser negligenciado em termos de práticas agrícolas, colheita e monitoramento da qualidade física. Uma preocupação recorrente é a presença de impurezas no sorgo devido a práticas inadequadas de colheita, armazenamento e transporte. Portanto, a monitoria da qualidade física do sorgo na recepção é essencial para garantir um ingrediente de alta qualidade na fabricação de rações. 





Outro desafio reside na moagem do sorgo na fábrica de ração. Devido ao tamanho pequeno dos grãos de sorgo, é comum que um percentual escape da moagem e seja adicionado à ração de aves. Ainda que em pequenas isso possa ser aceitável, em volumes significativos reduz a qualidade do processo de peletização. Uma vez que grãos inteiros têm a gelatinização do amido prejudicada devido à redução da ação do vapor. Isto ocorre pela barreira a ação do vapor e pela diminuição da superfície de contato, o que acarreta uma pior gelatinização, fator essencial para a formação adequada dos pellets. Além disso, a presença de grãos e partículas grosseiras criam pontos de fissuras nos pellets. Não o bastante, a tendência de aumentar a inclusão de óleo nas formulações quando se usa sorgo, devido à sua menor densidade energética, requer atenção especial. O excesso de óleo pode impactar negativamente o processo de peletização, exigindo equilíbrio na formulação para evitar problemas durante a produção de ração. Portanto, a qualidade do sorgo não se limita apenas à sua composição nutricional, mas também à gestão cuidadosa de todas as etapas da cadeia de suprimento para garantir o melhor desempenho e eficiência na produção de rações para aves.

Além disso, o sorgo é pobre em xantofila e caroteno, substâncias responsáveis pela pigmentação amarelo e alaranjada na pele dos frangos e na gema do ovo, resultando em uma coloração deficiente e inadequada. Comparativamente, enquanto o milho contém aproximadamente 1,8 ppm de caroteno e 19,0 ppm de xantofila, o sorgo em grão apresenta apenas 0,2 ppm de caroteno e 1,1 ppm de xantofila. Embora sem valor nutritivo, esta é uma característica importante na preferência do consumidor. Isso porque uma boa pigmentação de produtos avícolas é associada a um alimento fresco, saudável e com mais sabor. A cor da carne de frango, em particular, desempenha um papel crucial no momento da compra e, até mesmo, no prazer sentido durante o seu consumo. Portanto, ao incluir o sorgo nas rações de frangos e galinhas poedeiras, pode haver a necessidade de adição de corantes naturais ou artificiais. A decisão de utilizar pigmentantes dependerá das preferências e exigências específicas dos consumidores e das normas do mercado em questão. Esta é uma estratégia flexível, sua adoção ocorrerá conforme a necessidade para atender às expectativas de coloração dos produtos avícolas e a viabilidade econômica.

Em síntese, embora tenha menos energia que o milho e possa apresentar desafios relacionados aos taninos, a eficácia do uso de sorgo na alimentação de aves é assegurada por tratamentos adequados e formulações criteriosas de dietas. Entretanto, a preferência do consumidor por produtos avícolas com pigmentação amarela ou alaranjada na pele e na gema do ovo, mesmo sem impacto nutricional, deve ser considerada na hora da sua adoção na alimentação avícola. Contudo, o sorgo pode ser uma escolha vantajosa na produção de aves devido aos seus benefícios econômicos, tolerância ao calor, digestibilidade, equilíbrio nutricional. Produtores e nutricionistas devem considerar cuidadosamente a inclusão estratégica do sorgo nas dietas para otimizar o desempenho e a saúde das aves, ao mesmo tempo em que geram economias significativas. 

 

Literatura recomendada:

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