Pós-desmame: saiba como amenizar os problemas de um dos períodos mais críticos do sistema de produção suinícola

07 outubro 2021
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6 minutos

A suinocultura moderna busca constantemente melhorar seus resultados zootécnicos, minimizando pontos críticos que possam interferir negativamente no desempenho dos animais e, consequentemente, no retorno econômico dos produtores. Visto que aguardar que o desmame dos leitões ocorra naturalmente torna-se inviável para a lucratividade da produção de suínos, a desmama precoce – prática realizada entre os 21 a 28 dias de vida dos animais – apresenta vantagens para a maior rentabilidade do sistema, sendo comumente adotado com o objetivo de aumentar a produção de leitões por fêmeas ao ano, otimizar a produtividade das fêmeas do plantel, inserir leitões saudáveis e ativos na vida produtiva, entre outros benefícios.

O período pós-desmame compreende as duas primeiras semanas após o desmame do animal e é considerada uma das fases mais críticas na vida dos suínos devido a diversos fatores estressantes, dentre eles, a separação abrupta da mãe; a mudança de uma alimentação líquida (leite materno) para sólida (ração); mudança de ambiente (Mores et al., 1998), a alteração da hierarquia ocasionada pela mistura de novos animais/leitegadas; maior exposição a patógenos entéricos e respiratórios, etc. Tais alterações – de maneira combinada – podem causar grande estresse aos animais, resultando em diarreias, quedas de desempenho e aumento da incidência de mortalidade.

Deste modo, é de suma importância que tomemos alguns cuidados específicos para minimizar a criticidade desse período – tendo em vista que o sucesso da transição desta fase afetará positivamente o desempenho dos animais nas fases subsequentes – como a apresentação da ração já na maternidade; o balanceamento e consumo adequado da dieta; o uso de instalações que abriguem os animais em condições apropriadas; o correto espaçamento por animal, entre outras medidas que possam contribuir para a melhor adaptação dos leitões.

O fornecimento de ração na fase de maternidade pode ser uma ferramenta interessante para favorecer o desenvolvimento dos animais e acelerar o consumo no período pós-desmame, além de proporcionar aos leitões certa familiaridade com relação ao hábito de comer e digerir. Com isso, o consumo consistente de ração é atingido com maior rapidez na fase de creche, como resultado, o impacto sobre o epitélio intestinal poderá ser minimizado, pois a integridade das células epiteliais contribuirá para a melhor absorção de nutrientes. Além disso, o fornecimento de ração desde a maternidade pode contribuir com o aumento da taxa de sobrevivência dos lotes e crescimento extra dos leitões, bem como estimular o animal a consumir água – algo novo para o leitão que foi desmamado, uma vez que supria sua demanda nutricional através do leite materno e, agora, por meio de alimentação sólida e ingestão de água. Outra prática que deve ser considerada é estimular o consumo dos animais várias vezes ao dia, como uma estratégia para impulsionar a ingestão de ração no período pós-desmame.

O animal desmamado precocemente apresenta seu trato gastrointestinal ainda imaturo (Denck et al., 2017) e o fornecimento de nutrientes em qualidade e quantidade adequados contribuirão para a redução da agressão da arquitetura intestinal, diminuindo a regressão da altura das vilosidades e profundidade das criptas.

A inclusão de produtos lácteos, plasma sanguíneo, leveduras, ácidos orgânicos, probióticos, prebióticos e outros na dieta, é benéfica para o aumento da digestibilidade e melhora da absorção dos nutrientes, devendo-se respeitar o perfil cronológico de atuação das enzimas digestivas. Ademais, o farelo de soja – ingrediente comumente utilizado na nutrição animal – poderá ser cautelosamente adicionado a dietas para leitões – principalmente recém-desmamados, visto que fornecido em altas quantidades torna os animais susceptíveis a apresentarem diarreia.

As instalações disponíveis para receber os animais deverão estar em condições adequadas (limpas, desinfectadas e tendo passado por vazio sanitário), possibilitando o bom desenvolvimento dos leitões. É essencial manter a boa ventilação no interior dos galpões através do correto manejo das cortinas, evitando-se a entrada de indesejadas correntes de ar. Não menos importante, a altura dos bebedouros precisa estar devidamente regulada. Outro fator de extrema importância é a certificação constante da correta temperatura interna das instalações, garantindo o conforto térmico ideal para os animais, o que corresponde à temperatura mais próxima possível de 27 a 30º C, podendo ser utilizados aquecedores como alternativa para o fornecimento de calor suplementar. Além disto, casos de superlotação podem ser corrigidos por meio do adequado espaçamento dos animais nas baias, determinado com base na relação entre o número de comedouros e bebedouros existentes. Por fim, a homogeneização dos animais também deve ser realizada, objetivando o equilíbrio quanto a possíveis disputas entre lotes, sendo importante separar uma baia para os leitões de baixa viabilidade.

Em resumo, a criticidade característica do período pós-desmame exige a combinação de estratégias que possam minimizar o estresse e suas consequências sobre o desempenho animal, tendo-se sempre em mente que quando o manejo de estímulo de consumo na primeira semana pós-desmame não é realizado de forma eficiente, prejuízos futuros nas fases posteriores e ao longo de toda a vida produtiva do animal serão notórios. Portanto, diversos pontos críticos precisam ser levantados e trabalhados para diminuir a probabilidade e interferência de fatores estressantes, possibilitando assim, o adequado desenvolvimento dos leitões através de práticas que proporcionem bem-estar animal e consequentemente, maior retorno econômico para o produtor.

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REFERÊNCIAS 

Mores, N., Sobestiansky, J., Costa, O. A. D., et al. Fatores de risco associados aos problemas dos leitões no período pós-desmame. Comunicado Técnico 226 – Embrapa Suínos e Aves. Maio/1998, p. 1-11.

Denck, F.M., Hilgemberg, J.O., Lehnen, C.R. Uso de acidificantes em dietas para leitões em desmame e creche. Archivos de Zootecnia (online). 2017, 66(256), 629-638 (Acesso em 23 de setembro de 2021). ISSN: 0004-0592. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=49553571021