O problema da osteoporose em poedeiras comerciais

30 maio 2016
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Uma melhor preparação nutricional em poedeiras deve ser observada como um dos fatores fundamentais para melhoria das condições de qualidade óssea e bem-estar nos sistemas de produção atuais

A produção de ovos com poedeiras alojadas em gaiolas convencionais proporciona uma otimização da produção, bem como, maior segurança alimentar, uma vez que estes ovos não possuem contato com a cama dos aviários, local onde podem ser infectados e transmitir patologias aos humanos. Por outro lado, há uma preocupação crescente com a condição física dessas aves, que se mantém por um longos períodos dentro destas gaiolas. Linhagens cada vez mais produtivas e mais precoces vêm sendo desenvolvidas por empresas de genética e com elas, problemas que necessitam ser prevenidos e solucionados, como por exemplo, a osteoporose, distúrbio ósseo onde ocorre diminuição progressiva da estrutura mineralizada dos ossos e que acomete grande parte das aves em produção e em fim de ciclo (terão Withehead, 2004).

Trabalhos desde 1930 listam várias causas das deformidades do esqueleto em aves, as quais têm sido identificadas, dentre elas, podemos citar: déficit ou desbalanço nutricional, genética, micotoxinas, além de práticas de manejo que afetam diretamente o crescimento e desenvolvimento do esqueleto, em especial na fase de recria.

A fase de recria é fundamental para o bom desempenho das aves em sua vida produtiva, após sua transferência. Aves que tiveram um bom preparo do tecido ósseo durante as primeiras semanas de vida, consequentemente, uma condição melhor para uma boa deposição de cálcio na casca, devido à uma condição fisiológica de reparo do tecido ósseo medular, tecido este desenvolvido na maturidade sexual, local de onde a ave retira o cálcio necessário para finalizar a deposição da casca nas últimas horas pré oviposição, mais efetiva.

Sobre a condição óssea das aves

As perdas de tecido ósseo possuem dois estágios, o primeiro, perda do tecido medular, tecido do qual a ave é capaz de recompor com facilidade após cada oviposição, desde que haja um aporte correto de minerais e vitaminas para esse reparo, em segundo, a perda do osso cortical, estrutura mais interna. Quando a ave passa por um desequilíbrio nutricional exacerbado, lança mão do tecido ósseo cortical, que é mais interno. A perda do tecido cortical é irreparável, além de progressiva, causando dor aos animais, que acabam ficando prostrados nas gaiolas, não conseguindo alcançar os comedouros. Quando essa perda já existe, cabe ao nutricionista modular a nutrição e o arraçoamento das aves a fim de fornecer quantidade de cálcio circulante suficiente para que o problema não se agrave, poupando o osso cortical de um maior desgaste. 

Particularmente nas poedeiras, a osteoporose envolve perda óssea e foi descrita primeiramente em galinhas confinadas em gaiolas por Couch (1955), o qual mencionou o problema, como sendo originado de ossos frágeis, paralisia e morte. A perda do tecido ósseo é exacerbada pelas gaiolas, embora, o ambiente em si não seja suficiente para prevenir ou reverter a fragilidade.

A osteoporose em si ocorre quando a depleção de cálcio atinge o osso cortical. É comum encontrar em aves com mais de 60 semanas problemas dessa natureza.  

O aparecimento da osteoporose ou fragilidade óssea em poedeiras de alto desempenho tem sido atribuído a dois fatores; o primeiro, ao confinamento, o que acarreta uma osteoporose por desuso, ou seja, há uma perda considerável de massa óssea e em segundo, a seleção genética moderna que têm produzido animais cada vez mais leves com baixa capacidade de consumo de alimentos, porém com alta produção, objetivando um menor consumo de alimentos e uma melhor conversão alimentar (Withehead e Fleming, 2000).

A incidência de ossos quebrados em aves no final do período produtivo é um problema sério na indústria avícola. Em um estudo realizado no Reino Unido, encontrou-se que 29% das aves tinham ossos quebrados, quando o lote foi descartado no final do período de produção, no momento da apanha. (Riczu et. al., 2004).

A debilidade óssea de uma poedeira acarreta queda na produção, levando os animais a apresentarem quadro de fadiga de gaiola ou até mesmo, óbito. Esta debilidade promove além da queda de desempenho, sofrimento e consequentemente, perdas econômicas, quando no descarte das mesmas, uma vez que há geração de receita com a comercialização de galinhas em fim de ciclo.

De modo geral, aves mais resistentes à osteoporose depositam menos cálcio nas cascas dos ovos, uma vez que estes animais não mobilizam osso suficiente para formação da casca, quando em privação de cálcio via dieta (Bishop, 2000).

Do ponto de vista nutricional é possível pensarmos em algumas oportunidades, como, por exemplo, uma monitoria detalhada qualitativa e quantitativa das farinhas de origem animal, devido à quantidade de cálcio e fósforo e uso de adsorventes de micotoxinas, que nos garantem uma segurança à nível hepático, uma vez que o fígado é um órgão fundamental para o metabolismo da vitamina D, imprescindível no metabolismo e fixação do cálcio.

Alterações na granulometria do calcário, utilização de percentuais diferenciados de acordo com o avanço da idade das aves também colaboram para uma maior circulação de cálcio no sangue quando em períodos sem o fornecimento de alimentação, o que diminui o orgânico para finalização da deposição de casca.

Um crescente interesse da indústria a respeito da qualidade óssea e bem-estar de poedeiras têm sido observados atualmente, melhoria do manejo na fase de recria, uma melhor preparação nutricional desses animais bem como, um manejo diferenciado de arraçoamento são fatores fundamentais para que evitemos ou minimizemos prejuízos causados por este problema tantas vezes negligenciado.


Referências

WHITEHEAD, C.C. Overview of bone biology in the egg-laying hen. Poultry Science, v. 83, p. 193-199, 2004.

WHITEHEAD, C. C., and R. H. FLEMING, 2000. Osteoporosis in cage layers. Poult. Sci. 79:1033–1041.

COOK, M.E. 2000. Skeletal deformities and their causes: introduction. Poult. Sci., 79(7):982-984.

COUCH, J. R., 1955. Cage layer fatigue. Feed Age 5:55–57.

BISHOP, S.C; FLEMING, R.H; McCOMACK H.A; FLOCK D.K; WHITEHEAD C.C, Inheritance of bone characteristics affecting osteoporosis in laying hens. British Poultry Science, v. 41, n.1, p. 33-40, 2000.

RICZU, C.M.; SAUNDERS-BLADES, J.L.; YNGVESSON, A.K. et al. End-of-cycle bone quality in white- and brown-egg laying hens. Poultry Science, v.83, n.3, p.375-383, 2004.