O papel da nutrição animal como ferramenta sustentável
Renata Soares Marangoni
Nutricionista de Aves
É notório que a avicultura brasileira está em constante evolução e vem se destacando cada vez mais por seus excelentes resultados zootécnicos e para que a produção avícola continue crescendo e se desenvolvendo de forma competitiva, é fundamental conhecer, calcular e avaliar os principais indicadores de eficiência zootécnica e econômica.
Dentre os índices utilizados para se avaliar os resultados zootécnicos no campo, a conversão alimentar (C.A.) é uma das medidas de produtividade mais importante. A C.A. é definida como a quantidade de ração consumida para a produção de 1 kg de carne ou ovo. Desta forma, quando temos o aumento da C.A. significa que houve um maior consumo de ração para produção de uma unidade – o que gera um impacto econômico bastante relevante na empresa, considerando o alto custo do alimento na cadeia.
Quando observamos uma elevação da C.A., notamos também um aumento na quantidade de ração produzida e, portanto, maior necessidade de utilização de ingredientes que compõem esta ração. Por outro lado, através da melhoria do aproveitamento dos nutrientes, podemos reduzir o consumo de ração e otimizar a utilização de ingredientes, contribuindo, assim, para a sustentabilidade na produção avícola.
Várias tecnologias nutricionais, hoje, disponíveis para este objetivo, têm sido estudadas ao longo dos anos e amplamente utilizadas pelos nutricionistas, com foco na melhoria da C.A. e consequente busca por índices econômicos positivos na produção, além da adoção do uso adequado de recursos como o milho e a soja, que compõem a maior parte das dietas.
Neste artigo, vamos citar algumas tecnologias nutricionais que auxiliam na otimização do uso de ingredientes nas rações, tais como: as enzimas, os minerais orgânicos e o conceito de proteína ideal.
Enzimas
Uma das ferramentas nutricionais mais conhecidas e usadas, que vem demonstrando resultados satisfatórios, é a inclusão de enzimas exógenas na alimentação das aves, com intuito de melhorar a eficiência da digestão dos alimentos, diminuir a perda de nutrientes e, consequentemente, elevar o potencial de redução da poluição ambiental causada pelo excesso de nutrientes contidos nas excretas das aves.
A principal finalidade da suplementação enzimática em dietas para aves é a degradação dos fatores antinutricionais destes grãos, principalmente os polissacarídeos não amiláceos (PNA’s) e fitatos, aumentando, assim, a quantidade de nutrientes disponíveis para digestão e absorção no intestino.
Abaixo estão alguns exemplos desta relação:
- Uso da enzima fitase valorizando 0,1% de fósforo e cálcio, levaria a uma redução de aproximadamente 2,8 Kg de calcário e 5,55 Kg de fosfato bicálcico 18% por tonelada de ração produzida.
- Uso de uma carboidrase liberando 30.000 Kcal de energia metabolizável por tonelada de ração, o que corresponde à redução de aproximadamente 3,40 Kg de óleo de soja por tonelada de ração produzida.
Em síntese, a melhora da capacidade digestiva das aves através do uso de enzimas exógenas nas rações apresenta-se como uma alternativa não somente para melhora do desempenho animal e otimização do uso dos ingredientes, mas também, como forma de reduzir a quantidade de excretas produzidas, o que diminui o potencial contaminante do ambiente de produção.
Minerais Orgânicos
De forma geral, os microminerais na forma inorgânica possuem baixa biodisponibilidade, o que segundo Mabe (2003) pode estar relacionado à formação de complexos com outras substâncias no trato digestivo, reduzindo a solubilidade destes elementos. Já os minerais orgânicos, apresentam absorção superior aos inorgânicos, pois geralmente usam as vias de absorção das moléculas orgânicas que os ligam, o que faz com que não tenham problemas de interações com outros minerais.
Por terem uma melhor biodisponibilidade, os minerais orgânicos podem ser adicionados em menor concentração na dieta, em comparação aos minerais inorgânicos, sem qualquer efeito negativo sobre o desempenho produtivo, além de reduzir a excreção de minerais, diminuindo, assim, a poluição ambiental.
Proteína Ideal
Atender às exigências nutricionais do animal de forma eficiente, também é possível trabalhando o conceito de proteína ideal, ou seja, usando-se o balanço exato de aminoácidos essenciais e o suprimento de aminoácidos não-essenciais, capaz de atender sem excessos nem deficiências as necessidades absolutas de todos os aminoácidos necessários para a manutenção animal e máxima deposição proteica.
Segundo Suida (2001), para iniciar a redução ao nível mínimo proteico, os seguintes critérios devem ser considerados: revisar as matrizes nutricionais dos ingredientes disponíveis; revisar os requerimentos das aves e suínos para cada fase produtiva; introduzir os requerimentos em aminoácidos essenciais e avançar gradativamente checando sempre os resultados obtidos.
Lembrando que o uso do conceito de proteína ideal só é possível porque os principais aminoácidos limitantes (lisina, metionina, treonina, triptofano e valina) estão comercialmente disponíveis e a cada ano se tornam mais competitivos em formulações para aves.
Considerações Finais
A alimentação das aves é o fator de maior influência no seu custo de produção. Com isso, pequenas melhorias quanto à eficiência de utilização dos nutrientes e otimização do uso de ingredientes, podem resultar em grandes economias no processo produtivo.
Além disso, o melhor aproveitamento do alimento consumido pode tornar a atividade mais sustentável, pois melhorando o aproveitamento da ração, reduzimos diretamente a demanda de recursos para produção de proteína animal e, também, a perda de nutrientes através das excretas que podem afetar negativamente o meio ambiente.
É importante ressaltar que todas as soluções nutricionais devem estar acompanhadas de outros fatores que se somam à busca pelo melhor aproveitamento dos nutrientes pelas aves.
Referências:
SUIDA. D., 2001. Proteína ideal, energia líquida e modelagem. In: I Simpósio Internacional de Nutrição Animal. Anais... Santa Maria, RS, 2001
MABE, I.; RAPP,C.; BAIN, M.M.; NYS,Y. Supplementation of a corn-soybean meal diet with manganese, copper, and zinc from organic or inorganic sources improves eggshell quality in aged lauing hens. Poultry Science, v. 82, p. 1903-1913, 2003.
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