Conforto Ambiental na criação das aves

30 julho 2021
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3 minutos

No Brasil, investimentos constantes têm sido realizados nas áreas de melhoramento genético, nutrição, sanidade e manejo aplicados à avicultura de corte com o intuito de tornar a produção mais eficiente e competitiva frente a outros países. Houve também um aumento do volume de carne produzido e simultânea diminuição do tempo de abate, o que possibilitou a redução dos custos de produção. Esses ganhos foram possíveis graças à crescente adoção de tecnologias, à profissionalização do setor e a melhor organização da cadeia.

Por Joel Schwertz, Supervisor Técnico Comercial – Aves, De Heus Brasil 

Dentre os avanços alcançados, o melhor entendimento do conceito de conforto ambiental na criação das aves contribuiu, e tem contribuído, para o sucesso da atividade. É importante citarmos que o “Conforto Ambiental” é constituído por três principais vertentes: Conforto Térmico; Conforto Lumínico (ambos relacionados à eficiência energética) e Conforto Acústico. Todas elas estão diretamente atreladas ao desempenho e performance animal (LIMA, 2018).

 

Conforto térmico

 

TROCAS SECAS OU SENSÍVEIS


Radiação: troca de calor por produção ou emissão de ondas térmicas. Um exemplo de emissão de ondas térmicas é a radiação emitida pelo sol ou por campânulas a gás dentro do aviário, o que leva à irradiação da superfície aquecida e à emissão de ondas curtas, que aquecem a superfície do chão e são reemitidas em forma de ondas longas.

 

Ondas térmicas emitidas por campânulas a gás. Fonte: Agroenergy

Ondas térmicas emitidas por campânulas a gás. Fonte: Agroenergy

 

Condução: é baseada na transferência de calor no interior dos sólidos, isso ocorre na cama do aviário, quando bem aquecido, o que resulta na troca térmica entre superfícies (cama/ave). No caso, quanto maior a densidade do material, maior será a transferência de calor, quanto menos denso, menor será a transferência de calor, por este motivo materiais como a madeira são mais isolantes que o aço (HELERBROCK, R. 2021).

 

Cama bem aquecida não requer transferência de temperatura entre a ave e superfície. 
Cama bem aquecida não requer transferência de temperatura entre a ave e superfície. 

Convecção: é um processo de transferência de temperatura caracterizado pelo fluxo de fluídos devido as diferenças de densidade provocadas pelo calor. Nesse processo de aquecimento é necessário que ocorra uma elevada concentração de calor para atingir a temperatura demandada pela ave.

 

Sistema de aquecimento por convecção, onde requer utilização de ventilação de turbilhonamento para fazer a mistura de temperaturas.

Sistema de aquecimento por convecção, onde requer utilização de ventilação de turbilhonamento para fazer a mistura de temperaturas.


TROCAS ÚMIDAS OU LATENTES


Evaporação: consiste na troca de calor por meio da mudança de estado da água, como por exemplo, do estado líquido para gasoso. Nesse processo a água rouba calor da superfície em que está em contato para mudar de estado, e assim evaporar (LIMA, 2018). É o que ocorre quando a ave está com a respiração ofegante e também nas placas evaporativas dos sistemas de arrefecimento da granja (Pad Cooling).

Ave em conforto térmico ou termorregulação nula, onde não há gasto energético para manter a temperatura corporal.

Ave em conforto térmico ou termorregulação nula, onde não há gasto energético para manter a temperatura corporal.

 

É importante ressaltar que, para oferecermos o conforto térmico desejado, precisamos analisar diversas variáveis ambientais, como:


Temperatura radiante e temperatura do ar: são conceitos extremamente diferentes, isso porque a temperatura do ar, também chamada de temperatura de bulbo seco, é de fato aquela temperatura mensurável pelo termômetro, aquilo que vemos no marcador. Já a temperatura radiante, é a temperatura proveniente da radiação, seja solar ou de algum sistema de aquecimento, como por exemplo as campânulas a gás. Na prática a temperatura radiante é de fato o que a ave sente. É por isso que a campo encontramos algumas situações em que a temperatura indicada pelos sensores está adequada, porém, a temperatura sensível pela ave não está favorável e o animal manifesta comportamentos indicando desconforto. Para evitar esse tipo de variações, algumas empresas têm investido em isolantes térmicos para aumentar o isolamento das instalações.

A umidade é outra importante variável ambiental. Dentro dela temos dois tipos: umidade absoluta e umidade relativa.

A umidade absoluta pode ser definida como a quantidade total de vapor de água presente na atmosfera. Já a umidade relativa do ar refere-se à quantidade de vapor de água existente até o seu ponto de saturação, ou seja, até atingir a quantidade máxima possível de água no ar, antes que ela se precipite, sature ou condense.

A umidade absoluta máxima do ar é de 4%, a partir disso, as gotículas de água entram em ponto de orvalho e passam para o estado líquido em virtude de sua saturação. Portanto, com 4% de umidade absoluta, temos 100% de umidade relativa.  Consequentemente, se falamos que a umidade relativa do ar está em 25%, significa dizer que a umidade absoluta está em 1% (PENA, s.d.).

A velocidade do ar (vento) também é uma variável bastante utilizada em granjas de frango de corte para reduzir as sensações térmicas das aves (LIMA, 2018). Ela aumenta a capacidade de retirada do calor da instalação, assim como a dos indivíduos que nela estão.

Todas as variáveis citadas acima impactam de alguma forma à sensação de conforto térmico das aves. Na prática é importante o uso de instrumentos que nos auxiliam na aferição desses índices de conforto. Os instrumentos mais comuns são: termômetro de globo, termo-higrômetro e anemômetro. O termômetro de globo serve para aferir a temperatura radiante do local, já o termo-higrômetro, além da aferição de temperatura, serve para aferir a umidade do local. Por fim, o anemômetro é o instrumento utilizado para aferir a velocidade do vento na granja.

Além das variáveis ambiêntais, como citado, ressaltamos também a importância das variáveis da ave, que estão totalmente ligadas à sensação de conforto e ao seu comportamento. A taxa de atividade, o metabolismo, idade, gênero, empenamento, ração consumida e densidade, apresentam impacto direto sobre essas variáveis.

 

Entendendo o estresse calórico nas poedeiras. Fonte: Adaptado do Boletim técnico Hy-line

Entendendo o estresse calórico nas poedeiras. Fonte: Adaptado do Boletim técnico Hy-line

 

De uma forma bastante resumida, o conforto térmico depende do balanço térmico nulo entre o calor produzido e o calor perdido. O calor produzido está relacionado às variáveis do próprio organismo, já o calor perdido está atrelado às variáveis ambientais, como a velocidade do ar, umidade, temperatura radiante e temperatura do ambiente.

Caso o balanço térmico não seja nulo, o organismo do indivíduo ativará seu mecanismo termorregulador para poder controlar essas trocas. Por exemplo, em estado de calor excessivo a ave irá ativar mecanismos como aumento da vasodilatação periférica e aumento da frequência respiratória. Já em estado de frio, as aves se aglomeram na tentativa de reduzir a perda de calor.


Conforto Lumínico:
Quando falamos de “Conforto Lumínico” temos que observar alguns fatores importantes. De acordo com Lima (2018), o fluxo luminoso, a intensidade iuminosa, a eficiência luminosa, iluminância, luminância e temperatura da cor são importantes aspectos relacionados ao conforto ambiental. Portanto, todos estes fatores influenciam significativamente o conforto da ave. Ambientes com iluminação uniforme fornecem melhores condições para a ave ir em busca de alimento e evitam a concentração de aves em uma determinada região. Assim como a uniformidade, a intensidade é importante para estimular o consumo e contribuir para a melhor visibilidade do alimento, principalmente na fase inicial de criação.


Conforto Acústico:
O conforto acústico está relacionado aos barulhos e/ou ruídos indesejados de forma contínua ou intermitente dentro da instalação (LIMA, 2018). Na prática, um ruído presente de forma intermitente é o barulho do comedouro de ração, que estimula o consumo da ave toda vez que é acionado. Já um exemplo de ruído indesejado, presente nos aviários, é o barulho de ventiladores e exaustores em situações de falhas na manutenção preventiva dos motores, o que leva ao afastamento da ave das regiões onde se localizam esses equipamentos.


Deste modo, esses fatores precisam ser verificados e corrigidos rotineiramente, pois toda vez que ocorrer a ativação do mecanismo termorregulador da ave, haverá uma perda do potencial de desempenho, ou seja, a ave apresentará algum tipo de fadiga, levando a uma redução da sua taxa de atividade e provocando queda drástica no consumo de alimento. Portanto, devemos proporcionar o máximo de conforto ambiental às aves, para que se desenvolvam dentro de um ambiente adequado, permitindo maximizar o desempenho, resultando em um produto de alta qualidade a um custo de produção competitivo.


Consulte um de nossos especialistas e aumente o desempenho zootécnico de suas aves com nosso aconselhamento e soluções nutricionais feitas sob medida.

 

Referências:


HELERBROCK, Rafael. Condução térmica. Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/fisica/conducao-termica.htm<. Acesso em 27 de julho de 2021.
LIMA, João Victor. Conforto Ambiental - Módulo 1. YouTube, 11 de agosto de 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Tsm3YL7p9eA>. Acesso em: 20 de julho de 2021.
PENA, Rodolfo F. Alves. Umidade atmosférica. Mundo Educação, s.d. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/umidade-atmosferica.htm>. Acesso em: 27 de julho de 2021.