Avicultura de corte: ambiência e sustentabilidade lado a lado

Por Thalys Lima, Assistente Técnico de Aves

Com o crescimento acelerado dos últimos anos, os mercados também se tornaram mais exigentes quanto a uma produção cada vez mais eficiente e segura, com respeito ao meio ambiente e o bem-estar animal.

A utilização de novas tecnologias, neste contexto, é fundamental para proporcionar o maior bem-estar para os animais e para que se possa produzir de maneira mais sustentável, contribuindo para o uso responsável dos recursos naturais, diminuindo possíveis impactos negativos ao meio ambiente e, consequentemente, para a sociedade.

A campo encontramos os mais diversos problemas – seja em aviários modernos ou mais antigos – que vão desde o dimensionamento dos equipamentos ou instalação incorreta até a utilização inadequada dos equipamentos pelo não conhecimento técnico sobre como utilizá-los.

Diante destes diferentes cenários, o suporte de um time técnico de especialistas devidamente capacitados a como utilizar de maneira eficiente todos as tecnologias disponíveis é crucial para o desempenho zootécnico e sustentabilidade do negócio, assim como o correto aconselhamento acerca do melhor aproveitamento dos recursos disponíveis de maneira responsável.

Controladores das granjas

Todos os equipamentos de uma granja moderna estão interligados e funcionam de acordo com os ajustes realizados via controlador principal. Essa ferramenta nos mostra diversos parâmetros internos da granja - tornando possível a realização de ajustes diários ou até mesmo de programações automáticas para todo o ciclo de criação.

A utilização de diversas sondas e sensores nos mostram em tempo real tudo o que acontece dentro de uma granja, possibilitando uma rápida tomada de decisão. Variáveis como temperatura, umidade, luminosidade, consumo de água e ração, peso das aves, velocidade do ar, sensação térmica das aves, níveis de gases como amônia e gás carbônico, podem ser mensurados.

Vedação e isolamento das granjas

O cuidado com a vedação é considerado um dos principais fatores de um galpão climatizado. Todos os equipamentos de ventilação, refrigeração e aquecimento têm sua eficiência diretamente interligada à vedação do galpão, pois no momento da construção, diversos cálculos matemáticos são feitos para que os equipamentos sejam bem dimensionados e, assim, possam suprir a necessidade das aves.

Erros na vedação do galpão podem levar ao aumento do tempo de funcionamento dos sistemas de aquecimento, bem como do gasto energético e ao maior desgaste dos equipamentos, além da queima de combustíveis, elevação do consumo de água pelos equipamentos de refrigeração e do tempo de ventilação para remoção dos gases, poeira, entre outros.

Se no momento da entrega no galpão, os equipamentos estiverem bem dimensionados e instalados, mas a vedação for deficiente, mesmo assim haverá grandes prejuízos. Um teste básico de pressão antes do alojamento é uma ferramenta capaz de auxiliar na identificação de problemas relacionados à vedação para que possam ser corrigidos a tempo.

O isolamento das granjas támbém é algo que vem sendo muito discutido, pois interfere na ambiência interna do galpão. No Brasil, o sistema mais utilizado ainda são as cortinas, sejam elas amarelas, azuis ou pretas, devido ao baixo custo de instalação. Independente do tipo e cor utilizada, as cortinas possuem um baixo valor de R, o que significa que as mesmas não possuem uma boa capacidade de isolamento térmico.

Quando não utilizamos materiais com boa capacidade de isolamento térmico, fatores externos como os raios solares ou a própria radiação solar do solo podem influenciar na ambiência interna da granja, sendo necessário aumentar a utilização dos sistemas ventilação e refrigeração, acarretando o aumento de gastos com energia e água.

Apesar dos altos custos iniciais de instalação, a utilização de materias com maior capacidade de isolamento térmico devem ser vistos como um investimento, pois proporcionam um maior controle dos parâmetros internos da granja, gerando economia e melhoria da produtividade das aves.

Atualmente, os materiais mais utilizados na construção de novos galpões são placas de isopainéis, telhas isotérmicas, paredes laterais de alvenaria, lã de vidro, entre outros.

Aquecimento, ventilação e refrigeração das granjas

A evolução tecnológica dos equipamentos e granjas, tem como objetivo aumentar a eficiência produtiva das granjas, seja na melhoria dos resultados econômicos e utilização dos recursos naturais de maneira correta como na preservação do meio ambiente.

Uma ventilção bem ajustada tem papel fundamental no uso de recursos como a energia para funcionamento dos ventiladores ou exaustores, assim como no uso eficiente de combustíveis como a madeira, pellet e cavaco para aquecimento.

Os exaustores mais recentes passaram por diversas alterações para que pudessem apresentar uma maior eficiência. Hoje temos exaustores maiores, feitos de um material mais leve e duradouro e alterações aerodinâmicas que incrementaram sua capacidade de extração de ar - o que tornou possível a diminuição da quantidade de exaustores nos aviários.

O maior gasto energético de um motor se dá no momento do acionamento, por esse motivo, novos exaustores foram desenvolvidos com inversores de frequência, os quais tem a função de diminuir ou aumentar a velocidade de rotação da hélice sem que seja necessário desligá-los, reduzindo o consumo de energia.

Outra tecnologia disponível são os inlets, os quais possuem a função de reaproveitar todo o calor presente na parte superior da granja. Quando bem dimensionados e manejados, todo o ar externo que entra via inlet é misturado com o ar interno próximo à forração, o que possibilita a diminuição de gastos com combustíveis (madeira, pellete ou cavaco) para o aquecimento.

Os circuladores de ar também possuem a função de reutilizar o calor que está na parte superior, além de uniformizar a temperatura dentro do galpão e melhorar a ambiência.

O dimensionamento do painel evaporativo é outro ponto muito importante na dinâmica de refrigeração de granjas climatizadas e na eficiência do uso da água. Quando bem dimensionado, consegue diminuir a temperatura interna, manter a qualidade da cama e reduzir a necessidade de exaustores ligados. O subdimensionamento do painel evaporativo provoca não só o aumento da pressão interna do galpão, causando o estrangulamento da entrada de ar, como também o consequente aumento da velocidade do ar no painel evaporativo, tornando-se um dos principais problemas encontrados com relação a estes aspectos.

Na prática, isso leva a um aumento do gasto na quantidade de água utilizada, diminuição da eficiência de refrigeração e ao umedecimento excessivo das camas no terço inicial do galpão. Além disso, serão necessários mais exaustores ligados e com o aumento da pressão interna, a amperagem dos motores também tende a aumentar, elevando o consumo de energia e podendo levar à queima destes.

O sistema de aquecimento também está passando por inovações devido ao aumento dos custos energéticos e uso de combustíveis. O sistema de queima invertida é recente e possui o objetivo de melhorar o aproveitamento do calor produzido pelo forno, diminuindo a perda de calor via chaminé. Segundo o fabricante de aquecedores e equipamentos para aviários, Vita Termo, o novo sistema pode economizar cerca de 30% no consumo de combustíveis utilizados para aquecimento.

Desde o início da criação da cadeia avícola até os dias de hoje, a madeira é a principal fonte de combustível utilizada pelos avicultores. O principal problema da madeira está relacionado ao tempo de armazenagem e à espécie. Algumas espécies arbóreas podem produzir uma alta quantidade de resina durante a queima, diminuindo o tempo de vida útil do equipamento de aquecimento. Quanto ao tempo de armazenagem, a árvore cortada e armazenada com período inferior a 30-45 dias normalmente possui alta umidade, o que levará a uma menor produção de calor, sendo necessária a queima de mais m³/galpão para o aquecimento das aves. De maneira geral, a lenha precisa estar armazenada entre 60 e 90 dias para ter um bom poder calorífico.

Além da madeira propriamente dita, pellets cavacos de madeira e gás são fontes utilizadas em todas as regiões do Brasil. Já quanto aos equipamentos utilizados no aquecimento, temos campânulas e turbinas/canhões a gás, fornos de ar aquecido e radiação.

Qualidade da água

O cuidado com a qualidade da água tem sido um tema amplamente discutido nos últimos anos, pois como costumamos ouvir, a água, na grande maioria das vezes, acaba sendo o nutriente esquecido. É muito comum visitarmos granjas e percebermos que o sistema de água é subdimensionado ou que a água que está sendo fornecida é de má qualidade, seja pela presença de contaminantes como microrganismos ou matéria orgânica; minerais acima dos níveis adequados; forma de armazenagem inadequada ou pela não utilização de desinfetantes, entre outros problemas.

Todos os fatores supracitados podem influenciar de maneira negativa a implementação de toda a tecnologia desenvolvida e presente nos equipamentos em que utilizamos a água. A análise da água disponível na granja é ponto-chave para uma produção segura e sustentável e deve ser realizada periodicamente.

Em regiões como o Nordeste do Brasil, onde em determinadas épocas do ano temos baixa precipitação, produtores normalmente captam água de açudes, rios e represas. Estas águas podem conter altos níveis de matéria orgânica e, assim, demandar uma grande quantidade de produtos químicos para que se torne potável.

Caso não se tenha este cuidado, problemas como formação de biofilmes nos sistemas hidráulicos, proliferação bacteriana, bem como problemas sanitários podem surgir, ocasionando disbioses, queda no ganho de peso, aumento da conversão alimentar e mortalidade.

Nesse sentido, um simples processo de filtragem juntamente à realização de um processo de tratamento primário da água, pode diminuir a quantidade dos contaminantes e evitar todos os problemas citados acima.

No Sul do Brasil, as granjas normalmente utilizam águas de poços profundos e que apresentam altos níveis de minerais e pH elevado. Ambos os fatores podem ser prejudiciais e causar problemas nos equipamentos das granjas e desempenho dos animais.

Altos níveis de alguns minerais podem causar encrustamento dentro do sistema hidráulico ou em alguns equipamentos, acarretando na diminuição do consumo de água, formação de biofilmes, diminuição da eficiência dos equipamentos e queda no desempenho das aves. O pH mais elevado também pode dimimuir a eficiência de desinfetantes, medicamentos e até mesmo prejudicar a digestão e absorção dos alimentos, aumentando a conversão alimentar.

Em casos em que temos a água com seu pH alcalino, a simples utilização de ácidos orgânicos pode corrigi-lo, aumentando a eficiência dos desinfetantes e reduzindo a quantidade de produtos utilizados durante o ciclo de criação.

Qualidade da cama

Todos os fatores citados anteriormente poderão influenciar a qualidade da cama e, consequentemente, a eficiência produtiva das aves. O uso correto dos equipamentos auxilia na manutenção da qualidade da cama do galpão, mantendo sua umidade baixa e possibilitando sua reutilização de maneira segura.

Camas reutilizadas têm uma maior densidade e quantidade de matéria orgânica, o que facilita o pré-aquecimento e gera economia na queima de combustíveis, o que viabiliza o processo de fermentação para controle de pragas e bactérias, diminuindo o uso de inseticidas.

Quanto melhor for o manejo de cama e a utilização dos equipamentos maior será o tempo de reuso da cama e menor a necessidade de troca, assim como quantidade de resíduos orgânicos descartados no meio ambiente.

Considerações

A avicultura brasileira está em pleno desenvolvimento e as tecnologias estão prontas para nos auxiliar a obter uma produção de alimentos cada vez mais segura, responsável e eficiente.

Diante disso, as empresas e técnicos têm a necessidade de disseminar esse conhecimento para os avicultores, pois só assim poderemos continuar produzindo alimentos de maneira sustentável, cuidando e preservando toda a sociedade, bem como os recursos naturais disponíveis.