Atitudes que antecedem a uma creche de sucesso

22 agosto 2016
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2 minutos

Importância da escolha nutricional adequada para atender os desafios impostos aos leitões durante o período de transição inicial, para melhor desempenho em todas as etapas de seu desenvolvimento

A fase de aleitamento dos suínos, assim como em outras espécies, é de suma importância para um bom desenvolvimento do animal, e na suinocultura intensiva, esse momento tem se tornado cada vez mais rápido e dinâmico, pois em boas condições, um leitão tende a aumentar em mais de quatro vezes o seu peso em apenas 21 dias de idade. Certamente um leitão recém desmamado, ainda que tenha quadruplicado seu peso na fase anterior, ainda apresenta, fisiologicamente, seu sistema digestório imaturo, o que torna difícil a utilização adequada do alimento fornecido no pós-desmame.

Com a mudança nutricional do leite para uma alimentação sólida, o trânsito intestinal do animal fica mais lento ou até mesmo pode ser paralisado por um jejum mais prolongado, levando à um aumento do pH estomacal,  permitindo com que as bactérias tenham oportunidade de se fixarem no epitélio intestinal com maior facilidade e as partículas de alimento não digeridas no lúmen intestinal servem de substrato para o crescimento bacteriano indesejável. Os animais que mantem um consumo constante durante essa transição alimentar tendem a atingir níveis mais baixos de pH estomacal, o que ajuda, para eliminar microrganismos patógenos e proteger o leitão contra possíveis infecções entéricas, favorecendo também a ação de enzimas proteolíticas [01, 08 e 09].

Nas primeiras 24 horas após o desmame, também ocorrem alterações funcionais e estruturais no intestino delgado, que compreendem a diminuição na altura dos vilos e redução da atividade específica de enzimas digestivas e absortiva dos leitões[02], dando condições necessárias para a colonização de bactérias residentes ou ingeridas [03], podendo causar as diarreias no pós desmame.

Como se não bastasse, a saída dos leitões, da maternidade para a creche ocorre de uma maneira abrupta e envolve inúmeros fatores estressantes como, deixar a companhia da porca, a socialização com um novo grupo de animais e os possíveis desafios sanitários. Portanto, diante de todos esses desafios, algumas ações são necessárias para tentar minimizar os efeitos negativos que possam vir prejudicar o desempenho dos animais.


Estímulo à alimentação 

Estudos apontam que o suprimento ininterrupto de alimento, favorece a preservação da mucosa intestinal no período logo após o desmame. A atenção com uma alimentação,  ainda na maternidade, pode estimular o desenvolvimento do sistema digestivo, induzindo o aumento na secreção de enzimas digestivas e ácido clorídrico no estômago [04 e 05], preparando melhor o animal para o desmame e o recebimento de uma dieta seca [06].

O ideal é que os leitões consigam ingerir e utilizar adequadamente os nutrientes fornecidos pela ração o quanto antes, ou seja, desde a maternidade, para minimizar ao máximo os efeitos de um desmame precoce. Quanto mais cedo o leitão desenvolver e aprimorar sua produção endógena de enzimas para digerir os ingredientes da dieta, melhor será o seu desempenho [08]. Com a utilização de um programa nutricional correto, podemos obter um incremento de cerca de 50% no consumo de ração total da maternidade, favorecendo para uma melhor adaptação dos animais à introdução de um novo alimento na creche (gráfico 01).


Gráfico 01
. Consumo diário (g) na maternidade de acordo com a idade (dias) de arraçoamento.
FONTE: PESQUISA DE HEUS B-162

O alimento se torna protagonista na creche ao considerarmos que é uma das principais alterações que ocorrem na vida do leitão, portanto, a utilização de matérias primas de alta digestibilidade e de boa palatabilidade na produção dessas rações, é fundamental para otimizar a ingestão desses alimentos pelos leitões. A indústria de nutrição procura unir tecnologia e inovação para superar os desafios pertinentes a produção suinícola, levando ao campo, soluções práticas que podem fazer a diferença.

Animais fisiologicamente mais bem preparados para creche, tornam-se mais aptos a consumirem alimento desde as primeiras horas pós desmame e podem atingir um consumo três vezes maior nos primeiros dias da fase, quando comparados com leitões não habituados ao alimento (Gráfico 02.). Esse comportamento gera maiores taxas de ganho de peso médio, melhorando o desempenho dos leitões nas fases subsequentes.

Gráfico 02. Consumo acumulado nos primeiros sete dias
FONTE: PESQUISA DE HEUS RS161

Alguns manejos ainda podem potencializar o consumo na creche, como por exemplo, o fornecimento de ração realizado de maneira frequente e em menores quantidades, visando desenvolver um comportamento alimentar no animal, dando a ele sempre uma ração limpa e mantendo suas características de odor e sabor adequados, além de minimizar o desperdício. O período de tempo após o desmame para o início do consumo de ração, também está diretamente relacionado ao consumo de água, por isso, o acesso a água limpa e de boa qualidade para os leitões também é importante.

As estratégias utilizadas com a intenção de melhorar o consumo de alimento na fase de creche, justificam-se pela maior taxa de crescimento, melhor conversão alimentar e redução da mortalidade pós desmame. Um desmame com pesos mais elevados, uma melhora nas condições de alojamento e uma boa temperatura ambiente, também são indispensáveis para um sucesso de produção na fase. Portanto, considerando todos os desafios impostos aos leitões durante esse período de transição, é fundamental a escolha da estratégia nutricional adequada, com atenção especial à saúde intestinal e à ingestão de água e alimento de forma contínua, o mais rápido possível após o desmame, garantindo assim, um melhor desempenho desses animais ao longo de toda a vida produtiva.

Referências

 [01] Kenworthy R. & Allen W.D. 1966. Influence of diet and bacteria on small intestinal morphology, with special reference to early weaning and Escherichia coli. Studies with germfree and gnotobiotic pigs. Journal of Comparative Pathology. 76: 291-296.

[02] Donzele J., Abreu M.L.T. & Hannas M.I. 2002. Recentes avanços na nutrição de leitões. In: Anais do Simpósio sobre Manejo e Nutrição de Aves e Suínos e Tecnologia da Produção de Rações (Campinas, Brasil). pp.103-161.

[03] Pestova M.I., Clift R.E., Vickers R.J., Franklin M.A. & Mathew A.G. 2000. Effect of weaning and dietary galactose supplementation on digesta glycoproteins in pigs. Journal of the Science of Food and Agriculture. 80: 1918–1924.

[04] SHIELDS, R.G., EKSTRAM, K.Z., MAHAN, D. 1980. Effect of weaning age and feeding method on digestive enzyme development in swine from birth to ten weeks. J. Anim. Sci., 50(2):257-265.

[05] EFIRD, C.R, ARMSTRONG, W.D., HERMAN, L.D. 1982. The development of digestive capacity in young pigs: Effects of age and weaning system. J. Anim. Sci., 55(6):1380-1387.

[06] PLUSKE, J.R., WILLIANS, I.H., AHERNE, F.X. 1994. Nutrition of the neonatal pig. [S.l.: sn]

[07] BRUININX, E.M.A.M.; BINNENDIJK, G.P.; VAN DER PEET-SCHWERING, C.M.C.; SCHRAMA, J.W.; DEN HARTOG, L.A.; EVERTS, H.; BEYNEN, A.C. Effect of creep feed consumption on individual feed intake characteristics and performance of group-housed weanling pigs. Journal of Animal Science. v.80, p.1413-1418, 2002.

[08] PUPPA, J.M.R. Saúde intestinal dos leitões: o papel de alguns agentes reguladores. Anais... Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, Chapecó, Santa Catarina, Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 129p, 2008.

[09] SANTOS,L. S. et al; Fisiologia digestiva e nutrição pós desmame em leitões. NutriTime Revista Eletrônica Vol. 13, Nº 01, jan/fev de 2016.